Uma das principais características das crianças com a SA e tb uma das coisas que mais nos incomodam é a incapacidade de falar, com nenhum ou quase nenhum uso de palavras. Isso é frustrante!! Tanto para eles como para nós. Quem não convive com uma criança com SA pode não entender o tamanho desta frustração, afinal, “a fala não é o único modo de se comunicar”... ahãããã... tá certo... - essa afirmação é fácil qdo a pessoa não tem um atraso intelectual severo! Os surdos se comunicam por sinais, mas eles não têm um comprometimento cognitivo ou intelectual! E mesmo aqueles que nunca aprenderam LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) instintivamente desenvolvem alguma forma de linguagem, seja por sinais, seja escrevendo, ou por mímica, para conseguir transmitir o que estão pensando. Infelizmente o atraso intelectual das nossas crianças é muito acentuado e elas não conseguem instintivamente e/ou de forma adequada criar uma forma de comunicação, uma linguagem.
O "Dicionário de Lingüística" definide linguagem da seguinte forma: "capacidade específica à espécie humana de comunicar por meio de um sistema de signos vocais ou língua, que coloca em jogo uma técnica corporal complexa e supõe a existência de uma função simbólica e de centro nervoso geneticamente especializado". Esse sistema de signos vocais referido, utilizado por um grupo social ou comunidade lingüística constitui uma língua particular. BINGO! Mas e se a pessoa não possui um “centro nervoso geneticamente especializado” capaz de se comunicar?
No "Dicionário de Comunicação", define-se de outra maneira e dizem claramente que a linguagem está ligada à lingüística e pode ser qualquer sistema de signos - não só vocais ou escritos, como também visuais, fisionômicos, sonoros e gestuais - capaz de servir à comunicação entre indivíduos. A linguagem articulada é apenas um desses sistemas. Pode ser ainda o recurso usado pelo homem para se comunicar. Instrumento pelo qual os homens estabelecem vínculos no tempo e determinam os tipos de relações que mantêm entre si. OK... mas tem sempre um “mas”: qual recurso podemos utilizar para nos comunicar com as crianças (e vice versa). E outra: será que eles estão nos entendendo? Até que ponto eles sabem diferenciar um pergunta de uma exclamação? Uma “bronca” de uma “surpresa”?
O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
Na realidade o indivíduo começa a aprender o uso da linguagem ou a representar as idéias quando forma um conceito mental interno através de sua experiência. Tal experiência será um processo ativo, onde a pessoa envolvida na aprendizagem adquire seus próprios conceitos apelando para similaridades, diferenças e características especiais dos objetos e eventos. Esse conhecimento é armazenado na memória e será reconhecido no futuro sempre que ele aparecer.
Quando se vivencia a relação entre pessoas e objetos, como por exemplo; JOGAR BOLA, surgem as primeiras idéias sobre a ligação existente entre as palavras e as frases e um determinado fato ou evento. É neste ponto que começa a existir a união entre o significado (conceito) e um significante (os sons de palavras e frases).
Aqui no entanto há um problema: de acordo com estudos realizados (e por experiência própria), o cérebro das crianças com SA, é afetado nas áreas do hipocampo e córtex pré frontal, regiões responsáveis pela memória de longo e curto prazo e pela fluência do pensamento e da linguagem!
O córtex pré frontal, tem a ver com estratégia: decidir que sequências de movimento ativar e em que ordem e avaliar o seu resultado. As suas funções parecem incluir o pensamento abstrato e criativo, a fluência do pensamento e da linguagem, respostas afetivas e capacidade para ligações emocionais, julgamento social, vontade e determinação para ação e atenção seletiva. Traumas no córtex pré frontal fazem com que uma pessoa fique presa obstinadamente a estratégias que não funcionam ou que não consigam desenvolver uma sequência de ações correta.
O Hipocampo é uma estrutura localizada nos lobos temporais do cérebro e considerada a principal sede da memória. Esta estrutura é muito importante para converter a memória de curto prazo em memória de longo prazo. Uma das características de pessoas que sofrem acidentes e acabam tendo lesões no hipocampo é que ela fica impossibilitada de construir novas memórias e a pessoa tem a sensação de viver num lugar estranho onde tudo o que experimenta simplesmente esquece rapidamente, mesmo que as memórias mais antigas anteriores à lesão permaneçam intactas.
Voltando ao tema da linguagem... os estudos psicopedagógicos dizem que o código da linguagem só pode ser usado apropriadamente quando o indivíduo tem conhecimentos sobre os objetos e os eventos e estabelecer corretamente a relação entre eles. Muito interessante essa colocação...é por isso que os bebês não nascem falando?
O cérebro do bebê muda consideravelmente depois do nascimento. Nesse momento, os neurônios já estão formados e já migraram para as suas posições no cérebro, mas o tamanho da cabeça, o peso do cérebro e a espessura do córtex cerebral continuam a aumentar no primeiro ano de vida. Conexões a longa distância, sinapses, atividade metabólica continuam acontecendo até o 4º ano de vida. O cérebro também perde neurônios nessa fase. Um enorme número de neurônios morre ainda na barriga da mãe, essa perda continua nos dois primeiros anos e só se estabiliza aos sete anos. Dessa forma, pode ser que a aquisição da linguagem dependa de uma certa maturação cerebral e que as fases de balbucio, primeiras palavras e aquisição de gramática exijam níveis mínimos de tamanho cerebral, de conexões a longa distância e de sinapses, particularmente nas regiões responsáveis pela linguagem.
A linguagem humana para ser realizada necessita a utilização de órgãos periféricos e de um sistema nervoso central apropriado, algo que em nossas crianças é bastante comprometido – não a funcionalidade dos órgãos periféricos, como língua, boca, traquéia, cordas vocais... – mas a parte referente ao SNC (Sistema Nervoso Central). Tais órgãos, necessários à aquisição da linguagem, não são funcionais para o propósito da comunicação desde o nascimento. A criança é bombardeada por estimulações lingüísticas desde seu nascimento e nem por isso ele começa a falar assim que nasce. Tal acontecimento nos leva a pensar que a linguagem se realize através de etapas sucessivas de acordo com a atualização constante de certos potenciais orgânicos cada vez mais amadurecidos.
O estudioso do assunto, Lenneberg (1976), após estudar exaustivamente a aquisição disse que o desenvolvimento da linguagem acontece não só devido ao amadurecimento mais também que ela ocorre durante um período limitado. Isto quer dizer que se a aquisição da linguagem não acontecer num determinado período considerado "ótimo" para aprender, a aprendizagem poderá ou não acontecer mais não irá contar com as mesmas facilidades presentes no período "ótimo". Lenneberg chamou este período de PERÍODO CRÍTICO ou privilegiado. Trata-se então de um período marcado por um início e um final, onde não só a linguagem se desenvolve, mas outras habilidades também surgem e amadurecem. Isso tudo quer dizer que eles têm que tomar conhecimento da entonação, adquirir vocabulário, saber distinguir o concreto do abstrato. Nossas crianças têm um comprometimento na plasticidade do cérebro, ou seja, numa pessoa normal determinadas atividades que uma parte do cérebro é que realiza, se for afetada, outra parte do cérebro “assume” a função; em nossas crianças isto não acontece com facilidade. O cérebro deles é mais “rígido” no sentido de não ter a maleabilidade para construir novas pontes sinápticas que ligam aquela parte do cérebro que não está funcionando corretamente até outra parte que poderia assumir aquelas funções. Em outra postagem explicarei melhor o que é a plasticidade do cérebro.
A atividade verbal que prepara a criança para a aprendizagem lingüística passa por estágios característicos (sons guturais, balbucios etc.). Seja qual for o meio onde a aprendizagem da língua esteja acontecendo é difícil especificar quais foram os fatores determinantes deste início.
Se a linguagem para o homem é uma ferramenta útil na sua vida social, tal utilidade não aparece como vital para a criança. As necessidades da criança se comunicar serão fornecidas pelo meio, fazendo com que ela sinta ou não a necessidade de dizer MAMÃE aos 12 meses ou aos 8 meses. A aquisição não corresponde então a uma imposição do meio, que se fosse verdade, levaria a criança a ter urgência em se comunicar num momento preciso, o que não acontece. Esses acontecimentos levam a concluir que existe realmente um papel importante na maturação cerebral, segundo Lenneberg.
Como estamos falando de uma classe especial de crianças, deficientes intelectuais, e sabemos que o “Retardo Mental” (este termo não se usa mais, de acordo com a OMS e a ONU mas que aqui não estou usando pejorativamente) é o distúrbio do desenvolvimento, cuja característica principal corresponde a alteração no funcionamento intelectual, o qual está comumente associado aos outros déficits nas condutas verbais e sociais. O desenvolvimento da linguagem é algo complexo, e que depende, de certa forma, do desenvolvimento de habilidades cognitivas e sócio-adaptativas. As crianças que são lentas em todas as fases de desenvolvimento, também serão lentas na aquisição de habilidades de linguagem.
O desenvolvimento lento afeta o modo como as crianças com atraso intelectual aprendem sobre seu mundo e as pessoas e objetos nele. A maioria das crianças com retardo são lentas em todas as áreas do desenvolvimento: habilidades motoras, socialização, autocuidados e linguagem. Dentro de qualquer grupo de crianças com Retardo Mental, há grande variabilidade individual na aquisição de habilidades de linguagem. Com orientação, as crianças com retardo podem desenvolver habilidades de comunicação até os limites do seu potencial cognitivo e sócio-adaptativo.
Basicamente, as características mais marcantes são as não-verbais e em decorrência disso há um quadro de múltiplas ocorrências:
- A ausência da fala (linguagem oral) que no caso dos que têm a SA são problemas neurológicos, associado a déficits motores gerais e dificuldades visuais decorrentes do estrabismo, naquelas crianças que têm este problema.
- Tendência a serem amigáveis: procuram contatos sociais.
- Distúrbios comportamentais associados: infantilidade, desatenção, hiperatividade. agressividade e comportamentos estereotipados.
Quanto mais acentuado o comprometimento intelectual, mais limitado tenderá a ser o desenvolvimento da linguagem!! Temos que assumir que nossas crianças são comprometidas e fazer o possível para ajudá-las. Ficar chorando sobre o leite derramado não adianta nada!!
Os estímulos visuais ajudam a compensar uma possível dificuldade de compreensão oral e as situações concretas, ou seja, fatos e fotos reais são mais facilmente compreendidas por eles do que desenhos abstratos. O que se aconselha:
-Repetir várias vezes até que a criança compreenda. Se necessário, utilizar sinônimos e dar exemplos;
-Falar daquilo que se encontra ao redor da criança, mostre o mundo para o seu filho!
-Utilizar frases curtas. Eles têm dificuldade de memorizar informações, lembram? Com o tempo e o amadurecimento delas, aí sim podemos tornas as frases mais complexas pouco a pouco – tudo conforme o desenvolvimento da criança;
-Usar da linguagem corporal (expressão facial, gestos...); é mímica mesmo! Faça caretas, expressão de alegria, de choro, de tristeza – eles têm que aprender a associar o sentimento abstrato de alegria com a expressão facial concreta de demonstração de alegria… e assim por diante
-Complementar a comunicação com desenhos e filmes.
O Guille adora assistir o Mr. Bean pq ele não fala, repete várias vezes os movimentos (dá tempo para o cérebro dele entender o que o personagem está fazendo), faz muitas caretas e tb porque ele é exagerado nos gestos! Tem quem deteste… mas eu adoro! Morro de rir!
Quando houver suspeita de algum problema, não se deve deixá-lo ao sabor do tempo. É necessário encaminhar a criança a um especialista, no caso, o fonoaudiólogo.
Tem tanta coisa a ser falada sobre comunicação e linguagem! Esta postagem foi apenas um comecinho...
OLÁ ADRIANA GOSTARIA, SE POSSÍVEL QUE VC CITASSE O REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO REFERENTE AO TEXTO QUE VC APRESENTOU AQUI. POIS HÁ CASOS DE ALUNOS QUE ATENDO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL COM TAIS CARACTERÍSTICAS, E EU GOSTARIA DE APROFUNDAR-ME MAIS NESSE ESTUDO, AGUARDO TAL INFORMAÇÃO PELO EMAIL É iolandautuari@hotmail.com
ResponderExcluirDESDE JÁ AGRADEÇO, GRANDE ABRAÇO, IOLANDA UTUARI
Isso foi bom por que eu consegui fazer meu dever de casa mas ta legal..^^
ResponderExcluirola...
ResponderExcluirtenho uma filha de 8 anos e só agora foi diagnosticado a Sindrome de Angelman se puder entrar em contato (pepateixeira@hotmail.com)para me passar informaçôes pois moro em uma cidade q naum ten mtos recursos e pouco q eu ja sei sobre a sindrome é tudo por pesquisas feita pela net.
desde ja agradeço um abraço Pepa
Como a linguagem dá sentido as crianças
ResponderExcluirsou mãe de uma angelman e sei muito bem o que é ter um filho com essa doença Ana Eloiza Braz ja foi diagnosticada mas a luta só esta comesando na verdade a luta é diaria gostaria de poder conversar sobre o sucesso que vc teve com seu filho compartilhar tudo de bom que vc consegui com seu filho e poder ajudar a minha filha.
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